sexta-feira, 21 de maio de 2010

Vídeo produzido pelos alunos do Centro Integrado de Educação Pública Marco Polo - Três Rios, RJ.



sábado, 6 de dezembro de 2008

Reportagens sobre blogs no site Viva Favela

Diários da favela


Renata Sequeira | 10/09/2008



Os blogs quando surgiram eram considerados uma moda passageira entre os adolescentes. Hoje, são mais de 40 milhões espalhados pelo mundo virando uma importante ferramenta para registrar o dia-a-dia e a cultura de diversos lugares. No Rio, muitos moradores de favelas descobriram o potencial de comunicação dos blogs e vêm usando esses espaços para divulgar suas comunidades através textos, fotos e vídeos.

Cidade de Deus, Maré e Santa Marta são algumas favelas retratadas por jovens como Michel Fernandes, Francisco Valdean e Pierre Ávila que dedicam parte de seu tempo atualizando os blogs: “A voz da Cidade de Deus”, “Cotidiano” e "Aos pés da Santa Marta”, respectivamente.

“Eu sempre gostei muito de escrever e, como morador da Cidade de Deus, sentia que eu podia criar um canal que mostrasse as coisas positivas que acontecem na favela. É comum ouvir de moradores que aqui não acontece nada de bom. A idéia é usar o blog para mostrar o contrário”, afirma Michel.

Domingo é dia de publicar material novo e para se manter informado ele procura notícias sobre a Cidade de Deus através de sites. “Em julho, por exemplo, coloquei as datas das visitas dos candidatos à prefeitura do Rio. Quando Michelle Silva Lima morreu, (Via-crúcis por justiça)vítima durante uma ação policial quando estava lavando roupa dentro de casa, eu coloquei informações que só uma pessoa de dentro poderia ter. O blog teve muitas visitas por causa disso”.

Segundo ele, um dos motivos para a criação do blog foi uma entrevista da rapper Nega Gizza falando sobre novas tecnologias. “Eu ouvi a Nega Gizza dizer que precisava atualizar o blog dela e fiquei interessado no assunto. O primeiro passo foi procurar sites que me ajudassem a criar uma página. Existe um vasto material de apoio, com explicações e o passo a passo”, explica.

Maré na rede

Ele morava em Cachoeira Grande, no Ceara, e veio para o Rio viver com a mãe, quando tinha 15 anos de idade. Hoje, aos 27 anos, Francisco Valdean escreve o blog “Cotidiano”, que fala sobre a favela da Maré, onde mora. Criado em 2006, o espaço surgiu como uma forma de divulgar de imagens que ele produzia para o projeto Observatório de Favelas, mas com o passar do tempo a página foi ganhando mais interatividade através de vídeos e textos. Entre os vídeos selecionados é possível imagens da comunidade de 1981. “De vez em quando eu escrevo alguma coisa sobre Ciências Sociais. Falo de coisas de fora comunidade, mas partindo da Maré. Procuro dar uma cara mais local”.

Para Valdean, o blog é uma ótima oportunidade de “documentar a história” e a internet é uma ótima ferramenta de inclusão. “Infelizmente a maioria dos moradores da Maré não tem computador em casa e usam lan houses. Aqui deve ter uma média de três lojas em cada rua”, explica.

Na tentativa de mostrar outras possibilidades de uso da internet, Valdean participou de uma oficina, com jovens entre 14 e 20 anos de idade. “O legal é que tive a oportunidade de conhecer outras pessoas, como uma galera do Vidigal e até mesmo um repórter”.

Quem também usa o blog para relatar o que acontece no projeto onde trabalha é Pierre Ávila, do morro Santa Marta. Todos os eventos realizados na favela, pelo projeto “Aos pés do Santa Marta” são colocados no blog. “O blog, além de ser uma espécie de arquivo, com fotos dos eventos Dia Internacional da Paz, Dia do Trabalhador, entre outros, também é uma forma das pessoas, que não moram na favela, conhecerem o trabalho desenvolvido aqui”, diz Pierre, que já foi morador do Santa Marta.

Além das fotos dos eventos, o internauta pode conhecer melhor as aulas de música, que acontecem com os jovens da comunidade. “O blog é uma oportunidade de mostrar que fazemos música de boa qualidade. Nosso intuito é que outros artistas da comunidade, e não apenas quem participa do projeto, possa mostrar o trabalho, através do blog”. São cerca de 1000 mensagens que Pierre manda por e-mail. “Todo evento, nós colocamos as fotos no blog e mandamos para a lista de e-mails”, mostrando que para transformar um blog em referência é preciso muita disposição e criatividade.

Endereços dos blogs:

A voz da Cidade de Deus
Cotidiano
Aos pés do Santa Marta

terça-feira, 17 de julho de 2007

As histórias do Vidigal

Escrevam suas histórias sobre o Vidigal para serem publicadas no blog. Aí embaixo está um bom exemplo.

No início tinham poucos barracos e não havia luz, transporte, asfalto, nem água. Usávamos um poço comunitário para lavar roupas e tomar banho. Água para beber, só havia no poço da nascente do Sobradinho. Alguns moradores "roubavam" bicos de luz da fiação mais próxima (gatos). Em outros pontos do morro havia um relógio de luz para três famílias. Muitos usavam lamparina, ou lampião. Não havia depósito de gás. A comunidade também não tinha esgoto, só fossas. Não havia transporte.

Nossa comunidade não tinha nada,
mas tinha tranqüilidade.
Não havia violência.

Como divertimento tínhamos o "Águia Club", que foi vendido para a Igreja Universal. Para quem não gostava do "Águia", havia o "Bloco da Chaleira", do qual todos participavam: idosos, adultos e crianças. Mas, o bloco também acabou. Hoje, o único divertimento são os bailes, que têm que ser realizados na rua.
Não tinha mercado, nem padaria, só no Leblon. Hoje, tem "sacolão".
Só tinha escola para crianças, mas não durou muito tempo. Teve o Mobral, mas também acabou. Hoje, o Vidigal tem três creches e três escolas: Stela Maris, particular, Tamandaré, pública e Djalma Maranhão, pública.
Já temos correio, Pastoral de Crianças e posto de saúde. Mas, não há transporte para levar os doentes para o Hospital Miguel Couto.
A comunidade já foi visitada pelo Papa. Ele deixou um anel que está na Diocese e a réplica está na Capela da Comunidade. Muitas das melhorias aconteceram depois da visita do Papa.
A Comunidade tem um teatro, que já produziu várias peças. A iluminação era feita com latas de tinta. Este teatro resultou em empregos para muitos. Alguns trabalharam em novelas e filmes, como por exemplo, o filme "Orfeu Negro". No Ano Novo muitas pessoas vêm para assistir a queima de fogos.
Entre nossos sonhos estão: uma boa farmácia 24 horas, bancos e mais linhas de ônibus.

Lembranças de Dionice do Bloco da Chaleira

Antigamente, havia uma festa que alegrava os moradores da nossa comunidade do Vidigal durante o Carnaval. Era muito bom! Dançavam os idosos, os adultos e as crianças. Todos cantavam nas ruas em voz alta e cheia de alegria.
Esta história nos marcou tanto que até hoje temos um nome em nossas lembrança: Bloco da Chaleira

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Direitos e Deveres







A história de João Cidadão

João Cidadão era um jovem de 16 anos que morava no bairro de Quiprocó. Ele adorava jogar futebol, mas o lugar onde ele morava não tinha campo para jogar bola. O pessoal tinha que se arriscar e jogar na rua, onde havia muitos carros. Era muito chato porque sempre que estava rolando uma partida, todos tinham que parar por causa dos carros. Isso deixava João chateado, pois ele era um menino bem informado e sabia que na Declaração Universal dos Direitos Humanos todo homem tem direito ao lazer e sabia também que todos têm o direito de usufruir do espaço público.
João, não se contendo em não jogar bola, procurou uma solução e resolveu pedir uma opinião para uma pessoa mais experiente, o Seu Aristides, morador antigo de Quiprocó. Seu Aristides lhe deu a idéia de procurar algum agente da prefeitura e foi isso que João fez.
Quando chegou na região administrativa da prefeitura, João explicou sua situação e a de seus companheiros de pelada. O funcionário que lá trabalhava lhe disse que para realizar seu desejo seria necessário fazer um abaixo assinado de, no mínimo, mil assinaturas e que deveria ser feito com a ajuda da Associação de Moradores
Com esforço e união, João e seus amigos conseguiram as assinaturas e, posteriormente tiveram a resposta que queriam, conseguindo um lugar adequado para jogarem suas partidas de futebol.

Esta postagem foi escrita por Carlos Augusto e Sabrina.

O voto censitário e a importância do voto atualmente

Voto censitário é quando se estabelece uma renda mínima para ter o direito de votar. Este tipo de prática perdurou no Brasil durante todo o período imperial e se extinguiu na República, a partir de 1889.
Hoje, o voto é universal, ou seja, todos (maiores de 16 anos) têm o direito de votar. Mas, a impressão que se tem é que isso não adianta muito, pois os eleitores parecem não saber da real importância do voto. Votam por obrigação, não acompanham o trabalho de seus eleitos e, na maior parte dos casos, nem lembram em quem votaram.

Esta postagem foi escrita por Adriano, Elisa e Jéssica.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

O que falta no Vidigal?!!


O Vidigal não tem grandes feirinhas para comprar roupas, como há na Rocinha. Na nossa favela, não há muitas coisas para nos divertirmos, como: cinema, shopping, Mc Donald´s, banco, parque de diversão, etc..

O Vidigal também tem muitos problemas, como: falta de luz e falta d´água.

Esta postagem foi escrita por Érik

Falta no Vidigal a Prefeitura vir ajudar os moradores com as casas em áreas de risco. Falta também mais policiamento, cinema e Mc Donald´s. Falta reflorestamento, porque algumas partes da floresta estão secas. Faltam áreas de lazer para as crianças, já que alguns brinquedos foram quebrados lá na Vila Olímpica. Faltam mais postos de saúde, pois o posto que há tem poucos médicos. Enfim, faltam cursos, esportes, mais educação e mais projetos sociais.

Esta postagem foi escrita por Jhones

O problema no Vidigal é que ninguém tem consideração com as coisas, pois são colocados brinquedos em alguns lugares e em três dias já está tudo destruído. Faltam mais áreas de lazer, porque nós que moramos embaixo temos que subir uma longa distância para chegar até a Vila Olímpica. Faltam também mais postos de saúde, já que o único que temos é muito pequeno e não tem espaço para as pessoas serem atendidas, além disso é muito longe para as pessoas que moram lá em cima. Como a comunidade está crescendo, deveria haver dois ou três postos de saúde no Vidigal.

Esta postagem foi escrita por Luiz Flávio

Pra mim, aqui no Vidigal faltam algumas coisas como: policiamento, cinema e Mc Donald´s. Também faltam mais áreas de lazer para as crianças, já que o balanço e o escorrega lá da Vila Olímpica foram quebrados. Falta reflorestamento e mais postos de saúde, porque o que temos é muito pequeno e quase não há médicos. Por fim, falta a Prefeitura vir ajudar os moradores, investindo em educação, esportes e projetos sociais, como este curso.

Esta postagem foi escrita por Wellington

terça-feira, 5 de junho de 2007

O ontem e o hoje poderá ser refletido no amanhã?

Diz-se que a política é para todos, mas nem sempre foi assim. Ao longo da História vimos tipos de governos que foram se fragmentando, passando de regimes totalitários e monarquias até as democracias atuais, sendo que esta também está em constante modificação.
Grécia Antiga
Na Grécia antiga cada cidade-estado (chamada de polis) tinha uma legislação. O cidadão tinha que pertencer a própria cidade e preferencialmente ser homem. Não eram considerados cidadãos participantes as mulheres, os escravos e os estrangeiros. Cada cidade-estado grega era organizada com seus respectivos governantes, entre elas as mais importantes eram Esparta, Atenas e Corinto, tendo também sua organização militar autônoma, isto é independente uma da outra.
Roma antiga
Roma em seu início foi uma monarquia e depois uma república. A república romana era controlada pelo Senado que, em seu conjunto, representava os cidadãos romanos.
Diferente das gregas, as mulheres romanas tinham participação na vida pública da república. As Assembléias populares também ajudaram a construir a cidadania dos menos favorecidos. A sociedade romana era dividida em nobres oligarcas, patrícios, clientes, plebeus e escravos e estas assembléias serviram como um espaço de participação política dos que tinham menos direitos, em especial os plebeus.
A democracia e a política atual
As organizações políticas de hoje são mais amplas e mais conceituais. Conquistamos muitos direitos que antes não tínhamos. Homens e mulheres, pobres e ricos, civis e militares, hoje, temos todos os mesmos direitos. Nós temos o direito de escolher os nossos governantes, coisa que as sociedades antigas não tinham de forma tão ampla.
A política se torna cada vez mais atuante na sociedade e chegará um tempo em que a sociedade estará mais participativa, então, neste momento poderemos responder com mais certeza o que irá se refletir no futuro.

Esta postagem foi escrita por
Elisa, Eva, Gabriela, Gisele e Luiz Felipe.



quarta-feira, 23 de maio de 2007

Enquete: política de cotas, a favor ou contra? Eis a questão



Você sabe o que é política de cotas? É quando uma porcentagem das vagas que dão acesso a uma instituição são reservadas para um determinado grupo social.
Os que são a favor das políticas de cotas concordam que existem problemas histórico-sociais que só serão superados quando for
garantido o acesso democrático às instituições tradicionalmente ocupadas por uma elite, construindo um equilíbrio entre todos os grupos que compõem a sociedade. E reforçam seu argumento dizendo que é preciso garantir direitos fundamentais da Constituição brasileira de 1988, como a erradicação da marginalização, a promoção do bem-estar de todos e a redução das desigualdades sociais.
Já aqueles que são contra as políticas de cotas se sustentam no também princípio constitucional e democrático de que todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza e, portanto, os critérios que definem a concorrência por vagas devem ser iguais para todos.
No Brasil, todos concordam que só haverá uma maior inclusão social quando forem resolvidos problemas estruturais do ensino básico e fundamental. Os que defendem as políticas de cotas dizem que estes problemas existem faz décadas e que não é mais possível esperar. É preciso, portanto, incluir urgentemente para que as desigualdades socais não piorem ainda mais. Contudo, os que são contra dizem que se as políticas de cotas forem adotadas sem que estes problemas sejam resolvidos, estudantes supostamente mal preparados irão entrar nas universidades e nos postos de trabalho, agravando a situação.
Existem muitos tipos de políticas de cotas. A mais polêmica delas é a de cotas raciais. No Brasil, a questão da segregação racial esteve por um longo tempo fora da pauta de discussão dos políticos, mas sempre presente nas relações sociais do dia-a-dia (é só abrir os olhos e ver). Também existem cotas para estudantes de escolas públicas, cotas baseadas em critérios de renda e cotas para mulheres se elegerem a cargos públicos.
Você é a favor ou contra as políticas de cotas? Por quê? Leia o texto abaixo para se informar melhor e deixe a sua opinião neste espaço para debates.




Política de cotas: o nó da questão

Por que a polêmica está longe de se encerrar


Lorenzo Aldé

25/2/2003

Por que, agora, ressurge com toda a força o debate entre defensores e críticos da política de cotas? Muito simples: recentemente foram divulgados os resultados do primeiro vestibular no Estado do Rio de Janeiro a utilizar o critério de cotas em sua seleção. O que antes era apenas uma hipótese virou situação concreta na vida de muitas pessoas. Candidatos que obtiveram notas melhores do que aqueles selecionados pelos critérios das cotas, mas acabaram fora da universidade, estão entrando com processos na Justiça. Baseiam-se em um direito fundamental garantido pela Constituição Federal, aquele que representa as bases de qualquer democracia que se preze: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (artigo 5°). Segundo eles, a política de cotas é discriminatória, portanto inconstitucional. Não importa que a discriminação tenha como fim a inclusão social, ou seja, a igualdade: mesmo assim é uma discriminação. Têm ou não têm razão?

Esta é uma das poucas polêmicas diante das quais a maioria dos brasileiros bem informados não sabe muito bem que rumo tomar. Não cabem posições sectárias ou certezas ideológicas. Os argumentos de ambos os lados são incontestáveis e inconciliáveis. O que fazer?

Ninguém em sã consciência pode negar a situação de desigualdade social e de oportunidades em que se encontram os negros no país, construída historicamente e jamais revertida ou amenizada. Comprovam-no todas as estatísticas de acesso à educação e ao emprego, de renda, de acesso aos bens e serviços. Comprovam-no o senso comum e a simples observação do dia-a-dia. Os negros ainda são largamente discriminados e merecem, como cidadãos, políticas de inserção social. Ninguém pode ser condenado à pobreza e à exclusão por nascer negro. Ninguém pode ser condenado à pobreza e à exclusão, ponto. Se os negros são vítimas do racismo e do preconceito, o Estado tem o dever de buscar mecanismos legais para inclui-los na sociedade cidadã. Alguém há de negar?

Muito bem, o princípio é válido e urgente. Mas como defender a política de cotas tal como ela vem sendo implementada? Como defender qualquer política de cotas no Brasil? A história de nossa formação étnica e cultural difere radicalmente do exemplo norte-americano, país onde as cotas foram implantadas com sucesso, pela chamada política de “ação afirmativa”. Felizmente somos diferentes. O que há, nos Estados Unidos, é uma profunda cisão social e cultural marcada por determinantes raciais e étnicos. Os negros são os negros, têm seu lugar, sua linguagem, sua cultura na sociedade. São diferentes dos brancos e com eles não desejam “se misturar”. E vice-versa. O mesmo acontece com os latinos e com as demais “minorias” (já nem tão minoritárias assim). Triste país que não consegue construir um povo único.

É isto o que queremos para o Brasil? Políticas diferenciadas para pessoas diferentes? Seria exagero pensar que as políticas de cotas terão o efeito contrário do desejado? Em vez de promover a inserção social dos negros, podem acirrar preconceitos, criar uma falsa oposição entre negros e brancos, como se fossem dois povos diferentes disputando os mesmos nacos (minguados) de estudo e oportunidades sociais.

Há ainda outros problemas: como definir quem é negro, se no país os genes de todos nós são etnicamente heterogêneos, confirmando cientificamente nossa propalada mistura de raças? Este é um argumento cínico, dizem os pró-cotas. Quem é negro e discriminado, sabe que é negro e discriminado. Isto é verdade. Negro não se define pelo gene, mas pela aparência, pelo fenótipo. Mas quem vai averiguar as aparências de todos os candidatos universitários? Vamos utilizar o critério do IBGE, ou seja, a “auto-definição” de cor? No país do jeitinho, no estado da malandragem, num mercado pra lá de competitivo, seria ingenuidade acreditar no sucesso desse método.

E o artigo 5°? O que a Justiça vai decidir sobre a igualdade de todos perante a lei, quando o objeto é uma política que pretende promover a igualdade por meio da desigualdade no acesso? Complicado, não?

Diante de tantos obstáculos, parece impossível pensar numa solução prática para promover a igualdade de oportunidades entre brancos e negros, ricos e pobres, homens e mulheres. E então, desiste-se da iniciativa? Também isto é inaceitável. Não podemos nos conformar com as evidentes desigualdades que minam nossa democracia.

Onde reside o nó da questão?

Especialistas dizem que a grande discriminação se dá não na escola ou no acesso à universidade, mas no emprego: diante de dois currículos iguais, o branco leva vantagem. Políticas de cotas no funcionalismo público (que neste campo, devem beneficiar também as mulheres) já são implementadas, ainda que informalmente, país afora. A lei que determina o mínimo de mulheres candidatas nas eleições poderia também ser expandida aos negros. Com maior representatividade política, a luta pela igualdade racial poderia conquistar importantes avanços.

Ao fim e ao cabo, chegam todos a um consenso: a cisão começa a se dar na educação básica. O sucateamento dos serviços públicos, crescente na última década, aumenta o fosso de nossas desigualdades, relegando a pretos e pobres, “e quase brancos quase pretos de tão pobres”, a Educação e a Saúde que nenhum rico desejaria para seus filhos.

Se a Constituição Federal determina igualdade entre os cidadãos, o Estado é o primeiro responsável em construi-la. A Educação pública deve ser a Educação para todos, ricos e pobres, sem distinção. Deve ser a melhor Educação. A Saúde pública deve ser a melhor Saúde.

Com boa escola, boa saúde, boa casa, amplo acesso à cultura, ao esporte e ao lazer, nossas crianças saberão, desde pequenas, o que é igualdade. E quando chegarem à idade propícia, acharão um desatino essa polêmica que seus pais (avós ou bisavós, dependendo de nossa urgência em mudar) travaram: “Cotas? Para quê, se somos todos iguais?”


Pesquisa feita no Vidigal
Os alunos da turma 4.2 B (tarde) do projeto guias cívicos realizaram uma pequena pesquisa na comunidade do Vidigal sobre a política de cotas. Foram feitas duas perguntas para cada entrevistado:

1) Você é contra ou a favor da política de cotas raciais? Por quê?

2) Você é contra ou a favor da política de cotas para estudantes de escolas públicas? Por quê?

Confira abaixo algumas respostas:

Entrevistado A:
1) Contra. Porque aumenta a discriminação racial.
2) A favor. Porque eu acredito que mesmo gerando polêmica é um sistema que, a longo prazo, diminuirá a pobreza, dando oportunidade para quem não pode pagar uma universidade.

Entrevistado B:
1) Contra. Porque até hoje existe racismo no mundo e ninguém consegue fazer nada para mudar este pensamento.
2) A favor. Porque os estudantes de escolas públicas não têm dinheiro para entrar nas universidades e essa seria uma boa oportunidade para os jovens ingressarem no mercado de trabalho.

Entrevistado C:
1) A favor. Porque as pessoas de baixa renda terão muito mais oportunidades.
2) A favor. Porque é uma boa oportunidade dos estudantes fazerem faculdade. Mesmo que tenham que estudar muito mais para isso.

Entrevistado D:
1) A favor. Porque eu não posso tirar a felicidade de ninguém.
2) A favor. Porque as pessoas de baixa renda precisam.

Entrevistado E:
1) A favor. Porque beneficia os negros, que são vistos de forma ruim pelas pessoas ricas.
2) A favor. Porque é bom para quem não tem condições de pagar os estudos.

Entrevistado F:
1) Contra. Porque esta dívida que eles acham que falta pagar é passado. Estamos vivendo em tempos modernos
2) Contra. Porque se a pessoa tem o objetivo de entrar para a faculdade, não interessa se é de escola pública, ela estuda bastante e entra para qualquer curso e faculdade que quiser.

Entrevistado G:
1) A favor. Porque as pessoas não têm muitas oportunidades.
2) A favor. Porque as pessoas de classe baixa não têm condições de pagar seus estudos.

Entrevistado H:
1) A favor. Porque perante a lei todos são iguais, então tem que ter 50% das vagas para negros e 50% para o restante das pessoas.
2) A favor. Porque se eu fosse cursar uma faculdade gostaria de receber este benefício.

Entrevistado I:
1) Contra. Porque eu acho que é uma forma de preconceito.
2) A favor. Porque o direito de uns é o direito de todos, sem distinção.

Entrevistado J:
1) A favor. Porque com a política de cotas podemos acabar aos poucos com o racismo no mundo.
2) A favor. Porque assim podemos ajudar as pessoas pobres.

Entrevistado K:
1) A favor. Porque uniria os negros aos brancos e mostraria que todo mundo é igual, independente da cor ser diferente.
2) A favor. Porque tinham que investir em ensino público. A falta desse investimento faz as pessoas não acreditarem nos governantes.

Entrevistado L:
1) Contra. Porque acho que a política de cotas não irá acabar com o racismo, pois isso vem de muito tempo e se fosse pra resolver alguma coisa teria resolvido desde a constituição de 1988.
2) A favor. Porque é uma boa proposta que garante uma parcela das vagas não apenas para estudantes de escolas públicas, mas também para negros e índios, dando uma boa oportunidade de entrarem nas universidades.

OBS: As entrevistas foram realizadas pelos estudantes: Alex Soares Aleluia (2); Érik Soares Aleluia (2); Eva Cristina Costa e Conceição (5); Gabriela Fernandes de Melo (6); Luiz Felipe Marques de Paiva (3); Luiz Flávio Marques de Paiva (3); Jhones Félix Izidoro (4); Sabrina Medeiros Santos (5). Somando um total de 30 entrevistas, das quais foram selecionadas 12 por estarem com respostas mais claras e mais completas.








terça-feira, 22 de maio de 2007

Momento de reflexão - abrindo um espaço para debate -



O outro Brasil que vem aí

Gilberto Freyre


Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados
terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças
terão as cores das profissões e regiões.
As mulheres do Brasil em vez das cores boreais
terão as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil,
todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor
o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco.
Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
vaqueiro
marinheiro
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil
coragem de morrer pelo Brasil
ânimo de viver pelo Brasil
mãos para agir pelo Brasil
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis
mãos de engenheiro que lidem com ingresias e tratores europeus e norte-americanos a serviço do Brasil
mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar).
mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternais de todas as cores
mãos desiguais que trabalham por um Brasil sem Azeredos,
sem Irineus
sem Maurícios de Lacerda.
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de mistificadores.
Mãos todas de trabalhadores,
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistas
de escritores
de operários
de lavradores
de pastores
de mães criando filhos
de pais ensinando meninos
de padres benzendo afilhados
de mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavando
de pedreiros edificando
de doutores curando
de cozinheiras cozinhando
de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas comadres dos homens.
Mãos brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
desse Brasil que vem aí.


Poema escrito em 1926 e publicado no livro "Poesia Reunida", Editora Pirata - Recife, 1980, que nos foi enviado pelo escritor Antônio Prata, a quem agradecemos.


Conheça a vida e a obra de
Gilberto Freyre visitando "Biografias".

Este texto foi enviando por Luiz Felipe. É um poema de Gilberto Freyre intitulado "O outro Brasil que vem aí". Que Brasil é esse? É o Brasil do senhor e do escravo dando lugar ao Brasil do empresário e do proletário? Ou será que é o Brasil da democracia racial dando lugar ao Brasil da democracia do trabalho? Será que esse Brasil é possível? Ou será que os brasis se sobrepõem?

Este espaço pretende colocar questões e levantar dúvidas para que você possa dar sua opinião sobre os temas mais variados possíveis, mas que estejam sempre orientados para se pensar a sociedade.
Dê a sua opinião, logo abaixo, no espaço onde está escrito "fala aí!".